Trabalhamos com as palavras. O tempo todo pensamos o que cada uma delas nos faz sentir. Trocamos quando achamos uma mais adequada aos sentimentos que queremos provocar. O som, a rima, o ritmo, tudo de um texto gira em torno da linguagem que usamos, na língua em que escrevemos.
Língua e linguagem são a mesma coisa?
Podemos afirmar que são coisas diferentes, não é mesmo? Um mesmo livro pode estar escrito em duas línguas diferentes e possuir a mesma linguagem. Porque a linguagem é uma forma de expressão, de sentimento, de pensamento. E ela pode ou não estar ligada diretamente a palavras. Um exemplo atual disso são os emojis que tomaram conta de muitas comunicações. Basta colocarmos um “<3” que todo mundo entende o que queremos dizer com isso. Ou uma música, que mesmo sem letras consegue transmitir tanto! Para uma comunicação completa usamos as letras, as imagens e os sons. E o jeito de combiná-los é diferente em cada povo ou região.
Isso tudo, nos faz valorizar ainda mais o trabalho de um profissional que muitas vezes passa despercebido, os tradutores, que apesar de transferir um texto de um idioma para outro precisam manter a essência e sentimentos de um trabalho. Traduzir um livro de literatura não é trocar palavras por outras, é pensar em equivalência de sentido, de humor, de cultura. Realmente um grande trabalho, nada automático. E imagina fazer isso para crianças! Ser divertido, interessante, lúdico e fazer sentido em outro idioma, um trabalhão de verdade.
Adultos e crianças vêm e usam a linguagem da mesma forma?
A verdade é que a plasticidade do cérebro infantil permite que as crianças absorvam muito mais do ambiente, por esta razão aprendem um idioma de forma muito mais rápida e eficiente que um adulto. Inclusive, idiomas que não fazem tanto sentido como aquelas brincadeiras que usam a língua do “P”, por exemplo. Fora isso, os mais jovens são muito mais corporais e podem manifestar suas emoções mordendo ou dançando ou gritando em sílabas guturais que lembram nossos antepassados de milênios atrás.
A essa altura de nossas vidas adultas, não temos como separar nossos pensamentos das nossas palavras, apesar de muita gente usar imagens e gráficos como forma de organizar o raciocínio. Entretanto, não se pode negar que o idioma mãe, aquele que aprendemos primeiro que os outros, molda nosso cérebro e é através dele que vemos o mundo.
As sensações que temos são todas português do Brasil e tentamos com ele explorar todas as vivências. Comparando moradores de regiões distintas do planeta onde um tom de uma cor ainda não foi nomeado, com outro de uma região onde existe um termo específico para tal, mostrou que os indivíduos de onde não há a especificação são incapazes de diferenciar este tom. Interessante pensar como a forma como nos comunicamos pode ditar inclusive como vemos o mundo, não é verdade?
Sendo assim, precisamos ver com cuidado como nos expressar, principalmente com os mais jovens para não limitá-los e nem tolhí-los, ou influenciá-los ou ainda impedi-los de atingir todo seu potencial linguístico e visual. O mais importante no caso de uma editora de livros para os mais jovens é justamente não menosprezar tudo que nossa linguagem pode nos trazer, as nuances, as riquezas; textos para crianças e jovens não precisam ter palavreado diminuído, respeitar o leitor é mostrar a ele todas as possibilidades, mesmo que ainda não as conheça. Permitir que ele descubra novas perspectivas através das histórias e dos sentimentos que elas geram. Esse é um cuidado primordial.
O olhar para novos livros aqui na editora Pé de Palavra é para buscar neles uma boa história, que seja encantadora e divertida, que traga de uma maneira agradável uma linguagem que conecte, que não menospreze e eleve nossos leitores. Aqui no blog temos um texto sobre o motivo de termos aberto a editora e se ainda não tiver lido passe por lá para nos conhecer um pouco melhor.
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